A revista The Economist afirma que a crise financeira internacional desembarcou no Brasil apesar da confiança inicial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a chamar a turbulência global de “crise do (presidente dos Estados Unidos) Bush”.
Só que desta vez o problema é o setor privado, e não as finanças públicas, afirma a publicação na edição que chegou às bancas nesta sexta-feira. “O crédito está ficando cada vez mais escasso e os bancos cada vez mais desconfiados entre si”, diz o artigo, intitulado “A crise de crédito chega ao Brasil privado”.
A revista cita a fusão dos bancos Itaú e Unibanco, anunciada no último dia 3 de novembro - que deve criar a maior instituição financeira da América Latina e uma das 20 maiores do mundo - reproduzindo uma frase de Roberto Setúbal, do Itaú, em que ele afirma que a crise acelerou este processo.
“Apesar de as notícias terem agradado os sócios do novo banco, elas não tiraram a atenção de ninguém do nervosismo generalizado”, diz a revista, que relata que várias companhias da Zona Franca de Manaus deram férias não remuneradas a seus empregados, o que acontece pela primeira vez em três décadas.
Para a revista, o negócio entre os dois bancos deve alavancar uma nova onda de fusões no sistema bancário no país.
Efeitos repentinos
A publicação britânica afirma que os efeitos da crise no Brasil começaram repentinamente, depois de um período em que “a economia brasileira estava crescendo no passo mais rápido desde meados dos anos 1990, ajudada pelo preço recorde das commodities e pelo crescimento de crédito”.
“Os problemas começaram de repente, no mês passado, com a venda em massa de ações brasileiras e investidores estrangeiros fugindo para tentar cobrir perdas em outros lugares ou apenas voltando para casa”.
Segundo a revista, junto com a desvalorização do real, este fenômeno provocou perdas inesperadas nos contratos de derivativos em moeda estrangeira que eram usados para tentar limitar a exposição de companhias brasileiras dos altos e baixos do preço do dólar.
“Enquanto o real estava se valorizando, estes contratos pareciam uma boa aposta, mas as companhias ficaram com uma falsa sensação de segurança”, disse Marcelo Carvalho, do Morgan Stanley, à publicação.
A Economist afirma que 200 empresas firmaram este tipo de contrato, sendo que algumas registraram grandes perdas. “O temor sobre quantas outras podem apresentar prejuízos espalharam mais medo e fez com que os banco diminuíssem seus empréstimos”.
O crédito também ficou mais escasso no país no último mês. A publicação cita dados do Banco Central que apontam que o crédito para o comércio caiu pela metade em relação a meados de setembro, além de notícias sobre dificuldades de crédito para a agricultura (”o que pode prejudicar a safra do próximo ano”) e para o consumidor.
Medidas do governo
A Economist afirma que membros do governo não estão mais dizendo que o Brasil não será afetado pela recessão global e cita o fato de o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, ter confirmado, no final de outubro, que o governo vai reduzir a meta de superávit fiscal para 2009 de 4,3% para 3,8%.
Outra medida citada é a injeção de dólares pelo Banco Central para tentar estabilizar o valor da moeda. Os movimentos do governo brasileiro no sentido de permitir que bancos estatais, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, possam comprar ações de bancos em crise também são citados.
A revista aponta que, no entanto, por causa de crise financeiras anteriores, a maior parte dos bancos do país tem gestões bastante conservadoras, o que torna improváveis falências de grandes instituições financeiras no momento.
Culpa do setor privado
Elogiando o governo brasileiro, a publicação afirma que o país usou as condições favoráveis dos últimos anos para melhorar suas finanças, diminuindo a dívida pública e finalizando grande parte de sua dívida em dólar, o que pode fazer com que a desvalorização do real não traga grandes problemas fiscais.
“Mas, com a estabilidade financeira, muitas empresas fizeram dívidas em dólar e contratos de derivativos. O resultado é uma novidade para o Brasil: um problema financeiro causado pelo setor privado e não pelo público. É um progresso, de alguma forma, mas significa que os investimentos vão ter uma queda brusca. Analistas reduziram as previsões de crescimento para 2009 para entre 2% e 3%. Mesmo assim, muitas economias maiores irão cair ainda mais”, diz a publicação.
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